Uma questão de mulher muito atual que chega até mim no consultório são mulheres que me contam a frustração com o ex-marido que deixou de ser pai ou deixar de ser marido. Escuta essas mulheres começarem dizendo que “ele era um excelente pai” e/ou “ele queria muito a minha gravidez” e terminarem com “agora ele mal vê o nosso filho”. Ou até pior “ele sempre acha que dá muito na pensão”.
É, as histórias não tem sempre um final feliz. Essas mulheres cujo faço o acolhimento de suas dores são mulheres variadas: possuem idades diferentes, o tempo que em se mantiveram casadas varia e suas condições econômicas são igualmente discrepantes. Mas todas falam, sem exceção, descrevem com pesar do afastamento entre seus filhos e o pai deles, algumas se culpam por essa consequência de seus atos. Outros enxergam apenas os erros do pai de seus filhos e não a sua parcela de responsabilidade. Mas para todas, em uníssono, a separação foi um período doloroso mesmo que elas que tenham colocado o ponto final no casamento. E é unanimidade a dor que sentem pelos filhos em não terem a presença do pai, pelo ciúmes da nova companheira do pai, pelo ciúme do pai com o novo companheiro da mãe e com a quebra do ideal de família margarina! Dói. Dói muito enxergar a realidade que não condiz com a promessa frente ao padre de que nada irá nos separar. A realidade é oposta às fantasias, e enxergar o real embaraça a vista com lágrimas que traduzem a linguagem da alma. Dói tirar a venda. Muitas pessoas nunca a tiram. Mas é justamente quando eu me deparo com o real que me possibilito a me movimentar com maior firmeza na vida, os pés conseguem alcançar o chão e as asas se tornam mais operantes.
Lógico que as questões acima não são regras. Há vários casais que se separam e após isso há um fortalecimento do pai enquanto pai e da mãe enquanto mãe. Isso ocorre, uma vez que as brigas, o ciúme e os incessantes ataques entre a esposa e o marido já não atravessam mais os filhos. Os filhos vivem em dois lares com maior possibilidade de paz e harmonia. Os filhos gostam de perceber seus pais felizes e podem ser até gratos quando o motivo dessa felicidade se chama madrasta ou padrasto.
Conhecemos vários filhos egoístas que se colocam contra os parceiros dos pais. Mas também conhecemos famílias constituídas com mãe e mãe, pai e pai, filhos adotados, irmãos só por parte materna e só por parte paterno. Isso tudo junto, misturado e convivendo com respeito – cada um na firmeza de seu papel. A plenitude dos papeis familiares são fundamentais para relacionamentos saudáveis. O pai deve ter a função de orientar, guiar, corrigir, limitar e dar carinho. Eu não falo aqui que para isso eles devam estar todos os dias em contato com seus filhos. Eu falo de qualidade e não de quantidade de tempo. Existem mães que abdicam de seus trabalhos para cuidarem dos filhos, mas que esses passam a maior parte do tempo na companhia da televisão e demais artifícios eletrônicos.
Então o que vale é a qualidade de um encontro. Isso justifica o porquê apenas alguns segundos vividos viram recordações eternas, quando tocam nossos corações. É comum crianças que perdem seus pais com poucos anos de vida terem alguma recordação do rosto do pai, do cheiro da mãe e ás vezes essas recordações são de toda uma cena vivenciada pela família. Incrível lembrar de tanto quando se tinha apenas três aninhos de idade. Nunca ninguém irá esquecer de detalhes do dia que nasceu seu filho, do casamento, da formatura ou da grande promoção de emprego. Mexeu com a emoção mexeu com a memória de longo prazo. Então a educação dos pais ela é efetiva a partir de momentos que foram cercados por raiva, amor intenso, sentimento de rejeição, choro e alegria extasiante. É isso.
Essas mulheres que se queixam dos pais de seus filhos estarem se tornando estranhos aos filhos, nunca me deram uma resposta também do porque acreditam nessa ruptura de seus ex maridos com a única coisa que os matem ainda ligados: os filhos! Ah, os filhos…. justamente por serem eles o único laço que ainda mantêm esse homem e essa mulher unidos – seja para se atacarem ou para expressarem respeito, só sobra eles.
E é por isso que tantos filhos viram joguetes numa separação conjugal. Fazer o filho de joguete é criminar o ex e a ex na frente dele, é acusar de abandono, é criticar os novos parceiros que o/a ex encontram, é dizer que a casa ficou mais feliz com a saída de um deles e é também ignorar a questão como se a separação não tivesse que ser elaborada através de diálogos e mais diálogos.
E, os filhos, por serem a única sobra do resquício de algo que deveria durar para sempre e não durou, no rosto dos filhos está estampado uma mágoa do que deveria ter sido, mais não foi. O filho escancara a frustação de dois adultos que não conseguiram fazer o final ser feliz para sempre!
Sempre acreditei que a ausência diz muito. Marcar e não vir é querer se fazer lembrado e é um silêncio falante. Dizer que vai pagar a pensão e não o fazer, mesmo tendo dinheiro, é querer se fazer notar! É querer que a ex-mulher sinta a falta dos frutos que o trabalho dele proporcionam a família. Ou seja, que sinta a falta que ele faz com o bem estar material que proporcionava aos filhos e a ele. Idem a combinar buscar os filhos e não buscar. É sabido por eles que nada machuca mais o coração de uma mulher do que mexer com os seus filhos.
Na grande maioria das vezes o pai não faz isso propositalmente, mas o faz inconscientemente. E ele não quer fazer os filhos dele sofrer. Ele realmente os ama. Mas o egoísmo faz cegar, e ele quer atingir essa mãe de alguma maneira dolorida. E o trunfo mais precioso é mexer com os filhotes da leoa. Repito aqui que muitas vezes não é por maldade consciente, mas por impulso inconsciente. Que com terapia é tratável. É possível reverter essa fragilidade dos homens, que proveem muito de sua criação e até da relação que tinham com suas esposas em seus casamentos. É possível criar relacionamentos emocionalmente mais saudáveis após o rompimento de um casamento. Afinal pai e mãe são eternos para qualquer filho, mesmo após a morte real.
As mães e pais devem criar seus filhos, inclusive os meninos, com mais maturidade emocional e machismo. Devem criar uma sociedade com mais respeito às mulheres e mais atos firmes. Vivemos numa sociedade altamente machista. No inconsciente coletivo perdoamos o pai que se afasta completamente dos filhos, mas achamos imperdoável a mãe que abra mão da guarda parcial dos seus filhos para que fiquem com o ex-marido. Estranho nosso modo de pensar e temos que evoluir muito na questão de gêneros. Assim já iremos educar os nossos filhos a se sentirem responsáveis e arcar com qualquer consequência dos seus atos. Filho não é responsabilidade da escola, dos avós, do Conselho Tutelar ou da Dilma. Filho é escolha, decisão e responsabilidade de pai e mãe. E ponto. E se eu me sinto responsável pela minha escolha eu jamais a abandono mesmo sobre um tornado. Que possamos segurar firmemente a mão de nossos filhos, diminuindo suas angústias estruturais humanas, para transmitir então que filho a gente não abandona fisicamente e emocionalmente.
Intolerância as frustrações da vida é o lado infantil se manifestando em um descontentamento constante com cada pessoa com que se relaciona. Sobretudo se tratasse do par romântico. A fase da paixão passa e o que fica é o real. Mas é insuportável se haver com o real, quando no inconsciente o pensamento de menino lateja o tempo todo. Lá no inconsciente fica o registro do que assistimos e ouvimos quando crianças. O que lá está gravado, é o que executamos em comportamentos em nosso dia a dia. E se lá há a crença central de que existe o par ideal, que o casamento será eterno e os filhos realizaram todos nossos sonhos não realizados por nós mesmos certamente o comportamento será de esquiva a dor.
Há mães que se afastam dos filhos após separação. Há pais e mães que se separam dos filhos em virtude da não aceitação de seus novos parceiros amorosos, ou do temor de que seus conjugues atuais possam vir a não aceitar. Há mães e pais que jogam seus filhos no lixo também. Há várias personalidades e jeitos diferentes de se portar. Por isso não há resposta única a reflexão principal desse artigo.
Concluo assim que esse afastamento de pais e filhos é um traço infantil desse pai (que sempre é adulto) frente à problemática. É quase uma birra. E, paradoxalmente, esse afastamento é para se fazer presente.
Autora:
Gabriela Yoná Hoffmann
Pedagoga. Psicóloga organizacional
Conhecemos vários filhos egoístas que se colocam contra os parceiros dos pais. Mas também conhecemos famílias constituídas com mãe e mãe, pai e pai, filhos adotados, irmãos só por parte materna e só por parte paterno. Isso tudo junto, misturado e convivendo com respeito – cada um na firmeza de seu papel. A plenitude dos papeis familiares são fundamentais para relacionamentos saudáveis. O pai deve ter a função de orientar, guiar, corrigir, limitar e dar carinho. Eu não falo aqui que para isso eles devam estar todos os dias em contato com seus filhos. Eu falo de qualidade e não de quantidade de tempo. Existem mães que abdicam de seus trabalhos para cuidarem dos filhos, mas que esses passam a maior parte do tempo na companhia da televisão e demais artifícios eletrônicos.